Qual é a mentalidade que um síndico profissional deve ter para uma boa gestão?
“Quando uma pessoa de bem não faz nada, coisas ruins acontecem.” Em resumo, é com esta frase que Felipe Roth, síndico profissional do Condomínio Califórnia Residencial localizado na Zona Sul de São Paulo, define o papel e a principal motivação para quem quer se aventurar nesta função.
Síndico desde novembro de 2019, mas integrante do conselho fiscal desde 2017, Roth também encontrou nesta frase a grande inspiração que faltava para buscar o objetivo de se tornar síndico. Afinal, sua indignação com as gestões antigas a sua participação havia chegado no limite: “Ver o condomínio ser destruído e ninguém fazer absolutamente nada para reverter esta situação, me motivou a ser síndico profissional”, comenta.
Se em épocas normais cuidar de milhares de pessoas já se mostra um enorme desafio para qualquer gestão condominial, em tempos de Coronavírus em que uma crise financeira já se mostra presente em toda sociedade, tudo fica ainda mais complicado. E com Roth, como resultado, também não foi diferente. Sendo assim, ele precisou realizar uma gestão praticamente impecável para garantir que seu condomínio não ganhasse o mesmo rumo de tantos outros em meio a este cenário de Covid-19: contas no vermelho e um futuro ruim.
Para falar de sua trajetória, bem como dar dicas valiosas para os milhares de síndicos espalhados na cidade de São Paulo e por todo o Brasil, batemos um longo papo com Roth. Então, nesta conversa, a ideia é mostrar para você, um pouco de como funciona a mentalidade de um síndico profissional e como ele deve agir, seja lá qual for o cenário estabelecido para sua gestão. Afinal, o síndico profissional com boa intenção sabe que quando uma pessoa de bem não faz nada, coisas ruins acontecem.
Confira a seguir!
Qual a sua avaliação sobre o mercado de síndico profissional hoje?
Antes de mais nada, eu vejo um mercado muito carente e precisando de bons profissionais.
Em síntese, eu me relacionando cada vez mais com administradoras de serviço, a própria Allport e outros síndicos profissionais, eu escuto muito os mesmos problemas que eu vivi no passado, como corrupção e má gestão.
A maioria das pessoas que chegam a essa função se empoderam, achando que podem fazer o que quiserem porque esperam gerar lucro, o que é um pensamento totalmente errado. Afinal, o condomínio é um bem coletivo formado por pessoas que não pode e nem deve gerar lucro.
Como começou a sua carreira como síndico profissional?
Quando eu resolvi abraçar este desafio, comecei em 2017 fazendo parte primeiramente do conselho fiscal para só depois, ir para subsíndico. Ou seja, neste meio tempo, sempre procurei trabalhar de forma imparcial, buscando o bem coletivo e nunca um lucro ou nenhum tipo de benefício pessoal. Para isso, sempre busquei as melhores práticas e ouvir de referências do mercado que dão boas dicas para gestão e assim, aplicar internamente.
O que te motivou a ser síndico profissional?
Em resumo, foi ver o meu patrimônio, no caso o condomínio, ser destruído e ninguém fazendo absolutamente nada para reverter esta situação. Isso me deixou muito indignado, pois eu estava vendo o condomínio sendo desvalorizado, fator esse que me faria também perder dinheiro, caso eu tivesse que vender meu apartamento.
Então, eu resolvi arregaçar as mangas e fazer alguma coisa para reverter esta situação. Afinal, quando pessoas boas não fazem nada, coisas ruins acontecem.
Como era a gestão do condomínio antes de você fazer parte?
A gestão antiga foi péssima, ou seja, deixando o condomínio sem caixa por não observar e respeitar algumas coisas básicas para ser síndico, como fundo de reserva.
Contando um caso real, chegamos ao ponto de ter que parcelar a conta de água e gás nas festas de fim de ano justamente por falta de dinheiro. O motivo? Má gestão.
Então, quando assumimos, com muita transparência e ética, em apenas 1 ano, restabelecemos o caixa do condomínio, além de uma série de mudanças que foram percebidas. Prova disso é que eu atuando com subsíndico, fui eleito como síndico para dar continuidade a esse trabalho que iniciamos em dezembro de 2017.
Depois que você assumiu, quais foram as principais mudanças que você conseguiu fazendo parte da gestão do condomínio e depois, como síndico profissional?
Em resumo, a maior mudança que fizemos em 2019 foi a individualização da água, onde impactamos mais de 76% dos moradores que começaram a pagar menos no condomínio pelo consumo racional da água.
Também tivemos a automatização de todo o sistema de irrigação do condomínio que era feito pelo próprio zelador, que gastava de 3 a 4 horas nesta função, assim como o do controle de acesso.
Por fim, toda prestação de contas hoje é digital. Transparente, clara e sempre disponível para os moradores a qualquer hora e dia em nosso site e no portal da administradora para que o morador possa conferir, baixar e analisar.
Qual é o maior reflexo da boa gestão em tempos como este que vivemos, em que o Coronavírus trará um novo cenário econômico para o país
A boa gestão é fundamental para que um condomínio sobreviva a momentos de crise como este que estamos todos passando. E neste contexto, o síndico profissional tem papel fundamental neste objetivo.
Desde quando passei integrar a comissão administrativa até os dias de hoje, em que sou síndico, estamos há 4 anos sem ajustes na taxa condominial. Isso é milagre? Não! É boa gestão. Essa postura, em momentos de crise como o que vivemos, dessa forma, faz toda a diferença. Tanto é que para nós, por isso, mesmo em um cenário adverso como o que vivemos, em apenas 6 meses, já fechamos o ano com caixa positivo!
O que um síndico profissional precisa fazer para que o orçamento de seu condomínio feche no azul?
Antes de mais nada conhecer quais são e quanto custa as contas ordinárias do condomínio, que são aquelas que têm o peso maior como água, luz, serviço de portaria, limpeza etc. Ou seja, essas são contas que não podem deixar nunca de serem pagas.
Saber também qual é a sua receita, bem como quais são os períodos que você tem maior e menor arrecadação, como período de férias e carnaval, por exemplo. Esses são momentos que é preciso cortar despesas, pois se recebe menos.
Qual o maior problema que um síndico profissional pode enfrentar em sua gestão?
Na minha experiência, acima de tudo, a maior dificuldade hoje é quando eu preciso aplicar alguma penalidade a algum morador que cometeu uma infração.
Ou seja, punir as pessoas por algo por estarem acostumadas a fazer o errado, mas você querer mostrar o caminho do certo, é o maior desafio de todo síndico, na minha opinião.
E o que fazer para contornar este problema?
É preciso que o síndico invista massivamente em comunicação. Por isso, fiz questão de investirmos em muitos canais de comunicação, algo que exige muito tempo e energia.
Sendo assim, hoje, nós temos 6 canais de comunicação entre moradores e a gestão. São 50 quadros; um grupo de WhatsApp focado na gestão do condomínio para todos os moradores e outro grupo para comércio e serviço; um site do condomínio; um e-mail; e um boletim mensal informativo que é colocado na caixa de correspondência dos moradores.
Ou seja, invista em comunicação. Vai haver uma mudança grande? Avise antes! Dessa forma, você mostra respeito para com o condômino e transparência na gestão!
Para você, quais as maiores qualidades e atributos que um síndico profissional precisa ter para realizar uma boa gestão?
Antes de mais nada é gostar e amar cuidar de pessoas. Afinal, ser síndico é cuidar de uma empresa sem fins lucrativos formada por pessoas.
Em segundo lugar, é preciso ter um bom conhecimento na parte de gestão financeira, que é o coração do condomínio. Ou seja, se a pessoa conseguir se dar bem nessa parte, ela vai evitar cair em algumas armadilhas como orçamentos superfaturados e conseguir colocar seus projetos de pé.
Por fim, ser síndico profissional é estar sempre disponível a ouvir e ajudar. Ou seja, vão te ligar a qualquer hora, dias úteis, feriados ou finais de semana, 24h por dia. Sem disponibilidade, a gestão fica difícil.
Obrigado pelo papo, Felipe! Deixe uma mensagem final para os síndicos profissionais leitores do Blog da Allport.
Se vocês acreditam que possuem algo a contribuir e que isso vai ser relevante à comunidade que vocês moram e fazem parte, só existe um caminho: sigam em frente, se façam ser ouvidos e não desistam de seus sonhos e crenças por nenhum motivo!
Afinal, lembrem-se: quando uma pessoa de bem não faz nada, coisas ruins acontecem.